segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Recuperação da competitividade exige ousadia responsável em 2014

 José Ricardo Roriz Coelho*
          O balanço anual do setor de transformação do plástico é um exemplo muito claro de que a indústria brasileira, de um modo geral, continua premida pela perda de competitividade. Sua recuperação, considerando que paga salários mais altos, gera empregos de qualidade, aporta e desenvolve tecnologia e exporta itens de alto valor agregado, é decisiva para que o PIB volte a crescer de modo mais substantivo.
           O crescimento da produção física do setor de transformados plásticos poderia ter sido sensivelmente maior do que o índice de 1,6% em 2013, quando alcançou 6,67 milhões de toneladas, ante 6,66 milhões em 2012. O segmento de laminados foi o que apresentou maior expansão, com 8,3%. Em seguida, aparece o de artefatos diversos, com alta de 1,2%, e o de embalagens, que registrou queda de 0,3%. Os laminados foram puxados especialmente pelo setor automotivo, cuja expansão foi considerável este ano, devido à política de crédito e incentivos fiscais. Por outro lado, a importação de alimentos embalados aumentou bastante, prejudicando as embalagens plásticas nacionais.
          Em valores, a produção cresceu 8,6% na comparação 2012-2013, saindo de R$ 56,46 bilhões para R$ 61,33 bilhões. O consumo aparente registrou aumento de 9,1%: de R$ 60,8 bilhões, foi para R$ 66,3 bilhões. Aqui há um dado crucial para evidenciar a perda de competitividade da indústria brasileira: o consumo cresceu de modo expressivo, mas está sendo atendido em grande parte pelas importações, em detrimento da produção nacional.
Em consequência, repete-se o saldo negativo na balança comercial: o setor exportou 7% mais, na comparação com o ano anterior, com 255 milhões de toneladas, e importou 6% acima do registrado em 2012, um total de 731 milhões de toneladas. No comércio exterior setorial, o déficit já era negativo em US$ 2,05 bilhões de dólares no acumulado de janeiro a outubro, com um crescimento de 8,52% em relação a igual período de 2012. Mesmo nesse cenário, os investimentos tiveram crescimento de 4,8% na comparação com o ano anterior, totalizando R$ 1,97 bilhão. Quanto ao emprego, registramos alta de 2,2%, com a criação de 7.600 postos de trabalho. 
Sem duvida, porém, todos esses números poderiam ser bem melhores se o Brasil conseguisse redespertar o espírito empreendedor do empresariado, que precisa ter seu otimismo estimulado. Investir também significa correr riscos, mas os empresários mostram-se mais céticos ante incertezas e mudanças de cenários. Por isso, é premente reduzir o custo da produção e a burocracia, ampliar a segurança jurídica e estabilizar o câmbio e os juros em níveis adequados.
É necessária uma estratégia bem definida e com métricas claras, não para cada semana, mas os próximos 15 ou 20 anos, com ações coordenadas para a exploração de todo o nosso potencial. Precisamos ser mais ambiciosos e não nos resignar com desempenhos, das empresas e do PIB, inferiores aos que poderíamos alcançar com uma postura de mais compromisso perante o fomento socioeconômico nacional. No presente ritmo, levaremos 40 anos para ascender a um grau mais elevado de progresso.
Com medidas práticas e estratégicas, o Brasil saltaria da posição de país de renda média para o patamar de nação desenvolvida, que alcançaria com inteligência e uma dose de responsável ousadia.  O País teve avanços importantes nos últimos anos, como a redução da pobreza e mitigação das desigualdades. Também é positiva a maneira como enfrentamos e resistimos à crise mundial, com medidas anticíclicas que nos garantem, ainda na presente conjuntura de baixo crescimento, uma das menores taxas de desemprego do mundo. Porém, o modelo esgotou-se. Agora, é preciso ir além, com política fiscal mais transparente, resgate da competitividade industrial e sinalização de um cenário definido e claro para o estímulo do empreendedorismo e dos investimentos.
*José Ricardo Roriz Coelho é presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado de São Paulo (Sindiplast-SP), vice-presidente e diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp.

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