Camões Filho
Comecei esta semana com uma dúvida metafísica, capaz de mudar o destino da humanidade. É que logo na segunda-feira de manhã fui assaltado pela seguinte questão: “O pato voa ou não voa?” Você aí saberia me responder?
Os mais gaiatos de antigamente diziam o seguinte: “O pato nada, voa e anda, mas não faz nada direito”.
É que os cientistas afirmam que depende da espécie. O tipo comum, que criamos em casa, tem um voo curto e baixo, já algumas espécies de patos selvagens podem voar grandes distâncias, inclusive algumas dessas espécies são migratórias.
Essa dúvida metafísica me alugou a manhã de segunda por um fato insólito. Um pato, mas um patão mesmo, preto e branco como um bom corintiano, amanheceu no meu quintal. Todo pimpão lá estava ele, desafiando a lógica: como ele chegou ao meu quintal, já que minha casa é toda cercada por muros altos, inclusive com cerca elétrica?
Ele veio voando? Mas pelo jeitão do pato, gordinho, pronto pra ir pra panela – ah, na hora me lembrei dos patos com arroz feitos pela minha saudosa mãe – imagino ser uma aventura muito difícil.
Sempre ouvi dizer que pato não voa. E quando meus pais criavam patos, os bichos às vezes se engalfinhavam em disputas acirradas e eles saíam em um tipo de voo rasante, tocando os pés no chão. Era, na realidade, mais um tipo de pulos, em que eles batiam as asas desordenadamente.
A verdade é que, milagrosamente, esse “meu” pato veio da casa de uma vizinha. Para realizar esse milagre, ele teve que voar a uns três, quatro metros de altura. Voar? Mas pato voa? Essa dúvida parece mais complicada sobre quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, ou melhor, nesse caso, o pato!
Mas essa dúvida atroz do pato me remete a outro bicho esquisito, o besouro, que no linguajar popular é chamado de “bizorro”.
Minha professora de física dizia que besouro não voa, pela sua estrutura e também de acordo com a Lei da Aerodinâmica. Mas o danado do besouro voar contraria todas as leis da Física. Afinal, suas asas são finas, o que impossibilitaria que seu corpo pesado conseguisse se sustentar no ar. Corre assim a lenda no mundo da Física e da Engenharia que o besouro não pode voar.
Analisando sua constituição, vamos observar que ele é pesado demais, que suas asas são muito pequenas, que seu abdômen é disforme e que o cérebro é incapaz de enfrentar as complexas tarefas do voo. Portanto, teoricamente, o “bizorro” não pode voar. Mas voa. Você certamente já foi incomodado por um bicho desses voando e zunindo em volta de seus ouvidos.
Pois que besouro voa, já tinha constatado. Agora descobri que pato doméstico também voa. Se não voa, como explicar o que apareceu segunda-feira no meu quintal? Se ele não voa, decerto chegou à minha casa de disco-voador. É o pato que veio do céu...
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Camões Filho é jornalista, escritor e pedagogo, pós-graduado em Jornalismo e Assessoria de Imprensa. E-mail do autor: camoesfilho@bol.com.br
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