quinta-feira, 11 de julho de 2013

Pelas esquinas...

Camões Filho


         Caminhando pelas ruas de Taubaté comecei a matutar sobre as esquinas da cidade e de nossas vidas, veredas que nos levam e trazem. Afinal, são nas esquinas que as coisas acontecem. Ali, na esquina, é o lugar certo para encontrarmos aqueles amigos que de há muito não os vemos. Trocar um dedo de prosa. Pôr a fofoca em dia.
         A esquina é o lugar mais alegre e democrático de todas as cidades. Ali passa todo mundo, rico ou pobre, bonito ou feio, alegre ou triste. Na esquina o desempregado improvisa alguns malabares e defende uns trocados, quando os carros param no semáforo. São nas esquinas que a gente recebe todo tipo de propaganda, que haja dinheiro pra comprar.
         A esquina também é o melhor ponto de referência, quando alguém nos pede uma informação. Tá vendo aquela esquina? Você vira à direita, depois anda mais uns dois quarteirões... Pronto. O cara vai adiante e encontra o endereço que procura.
         As esquinas giram, rodopiam, levam e trazem as pessoas, tanta gente, que a gente nem imagina de onde saiu tanta gente assim.
         Esquinas de minha vida, de tantos anos vividos. Esquina de minha rua, de uma Vila São José distante, onde a gente brincava de garrafão, jogava figurinha no bafo ou bolinha de gude e ficava vendo as meninas passarem, indo para a escola com seus uniformes impecáveis, cadernos e livros seguros com os dois braços, apertando contra o peito, com se levassem as coisas mais preciosas do mundo.
         Esquinas que cruzei por opção e outras pelas quais passei de má vontade, amizades feitas e nunca desfeitas, gente que passou e nunca mais voltou que eu fico aqui perguntando, pelas esquinas da vida, para onde foi esse pessoal que nunca mais vi, com quem nunca mais topei pelas esquinas...
         Lembro-me de um antigo poema que escrevi, tomando vinho tinto com meu amigo e compadre Mestre Justino: “Um homem parado na esquina / debaixo de um roto chapéu / fuma um cigarro comprido / conta as estrelas do céu...”
         Esquinas da minha terra, esquinas da minha vida. Tanta esquina dobrada, tanta esquina vivida...
         E lá vou eu, mãos nos bolsos, pensando cá com meus botões que Brasília é uma cidade fria e onde se rouba tanto, porque lá é uma cidade chata. Uma cidade sem esquinas...

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 Camões Filho, jornalista, escritor e pedagogo, pós-graduado em Jornalismo e Assessoria de Imprensa, é membro titular da Academia Taubateana de Letras.
E-mail para contato com o autor:  camoesfilho@bol.com.br



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