quarta-feira, 24 de julho de 2013

Futebol, política o papa

Pollyana Gama
Vereadora, Educadora e mestranda
em Desenvolvimento Humano

Futebol, política e religião não se misturam. Será mesmo? A realidade dos últimos acontecimentos contesta esta afirmação. No momento em que vivenciamos manifestações populares de motivos diversos, seja na busca por melhores serviços públicos, por uma política decente ou para torcer pela Seleção Brasileira durante a Copa das Confederações e até mesmo para receber o querido Papa Francisco, não podemos nos esquecer de boa parte da fonte desses recursos, comum a todos os acontecimentos: os cofres públicos.

Para ter uma ideia, o Governo Federal divulgou na semana passada a última previsão de gastos para a Copa do Mundo de 2014 na ordem de R$ 28,1 bilhões. Este valor corresponde a quase 1/3 dos R$ 99,8 bilhões destinados à Saúde ou dos R$ 81,1 bilhões do orçamento da Educação. Quanto aos investimentos públicos dirigidos à vinda do Sumo Pontífice, o jornal O Globo publicou valores em torno de R$ 120 milhões, obviamente, bem mais tímidos, contudo de origem semelhante. Para cada centavo, a justificativa dos gestores é de que ambos os eventos aquecem a economia local, e no caso da Copa, tem-se a “oportunidade histórica para o desenvolvimento do país”, nas palavras do secretário executivo do Ministério do Esporte, Luís Fernandes.

Acredito que você, leitor, esteja pensando neste momento o que leva um gestor público a se expressar dessa maneira. Até porque, penso eu, que o desenvolvimento de um país não pode ser condicionado por uma “oportunidade” que veio a se confirmar em 2006, após 506 anos do seu descobrimento, quando o Brasil foi escolhido pela Fifa para sediar o maior evento futebolístico mundial. Desenvolvimento é uma necessidade para viver e se conviver dignamente, e a maior oportunidade da qual dispomos é a vida que exige ação e reação de todos.

Ação como a de jovens do mundo todo que clamam “por espaço”, pelo primeiro emprego e que desencadeou de certa forma em uma reação imediata do Papa Francisco ao assumir o pontificado. O Santo Padre externa sua preocupação no sentido de alertar os governantes para discussão de políticas superadoras desse desafio imposto à juventude. Parte significativa desse seu alerta pôde ser conferida em seu primeiro discurso ao nosso povo quando enfatizou que “a nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço; isso significa tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos, sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida, assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade autentica, suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe a herança de um mundo que corresponda à medida da vida humana; despertar nele as melhores potencialidades para que seja sujeito do próprio amanhã e corresponsável do destino de todos.Com essas atitudes recebemos hoje o futuro”.

As palavras do Papa nos chamam à responsabilidade, pois, independentemente do papel que desempenhamos – torcedor ou jogador de futebol; cidadão ou agente político; fiel ou líder religioso –, fazemos parte de um mesmo mundo. Por incrível que isso possa parecer, suas palavras lembraram-me também as do jornalista Juca Kfouri ao afirmar “ser reacionário o discurso dos que não acreditam se misturar futebol e política”. A isso acrescentaria também a religião, pois todos esses segmentos configuram instituições humanas. Que bom que o Papa não é um reacionário. Pensar e reverberar que futebol, política e religião não se misturam é desconsiderar possibilidades de diálogo em prol de um coletivo.


A sociedade brasileira busca seu porto seguro e isso, por si só, deveria configurar-se oportuno para o desenvolvimento de ações planejadas por parte dos governantes. Eventos acontecem e a vida, as pessoas e suas necessidades tem acontecido muito antes. Agregar eventos sazonais a um plano de desenvolvimento contínuo, desde que já se tenha garantido padrões semelhantes na prestação dos serviços públicos essenciais, é equalizar satisfação com qualidade de vida.

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