Pollyana
Gama
Vereadora,
Educadora e mestranda
em
Desenvolvimento Humano
Futebol,
política e religião não se misturam. Será mesmo? A realidade dos últimos
acontecimentos contesta esta afirmação. No momento em que vivenciamos
manifestações populares de motivos diversos, seja na busca por melhores
serviços públicos, por uma política decente ou para torcer pela Seleção
Brasileira durante a Copa das Confederações e até mesmo para receber o querido
Papa Francisco, não podemos nos esquecer de boa parte da fonte desses recursos,
comum a todos os acontecimentos: os cofres públicos.
Para ter
uma ideia, o Governo Federal divulgou na semana passada a última previsão de
gastos para a Copa do Mundo de 2014 na ordem de R$ 28,1 bilhões. Este valor corresponde
a quase 1/3 dos R$ 99,8 bilhões destinados à Saúde ou dos R$ 81,1 bilhões do
orçamento da Educação. Quanto aos investimentos públicos dirigidos à vinda do Sumo
Pontífice, o jornal O Globo publicou valores em torno de R$ 120 milhões,
obviamente, bem mais tímidos, contudo de origem semelhante. Para cada centavo, a
justificativa dos gestores é de que ambos os eventos aquecem a economia local,
e no caso da Copa, tem-se a “oportunidade histórica para o desenvolvimento do
país”, nas palavras do secretário executivo do Ministério do Esporte, Luís
Fernandes.
Acredito
que você, leitor, esteja pensando neste momento o que leva um gestor público a
se expressar dessa maneira. Até porque, penso eu, que o desenvolvimento de um
país não pode ser condicionado por uma “oportunidade” que veio a se confirmar
em 2006, após 506 anos do seu descobrimento, quando o Brasil foi escolhido pela
Fifa para sediar o maior evento futebolístico mundial. Desenvolvimento é uma
necessidade para viver e se conviver dignamente, e a maior oportunidade da qual
dispomos é a vida que exige ação e reação de todos.
Ação como
a de jovens do mundo todo que clamam “por espaço”, pelo primeiro emprego e que
desencadeou de certa forma em uma reação imediata do Papa Francisco ao assumir
o pontificado. O Santo Padre externa sua preocupação no sentido de alertar os
governantes para discussão de políticas superadoras desse desafio imposto à
juventude. Parte significativa desse seu alerta pôde ser conferida em seu
primeiro discurso ao nosso povo quando enfatizou que “a nossa geração se
demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe
espaço; isso significa tutelar as condições materiais e imateriais para o seu
pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos, sobre os quais
construir a vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo
que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça
ser vivida, assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de
felicidade autentica, suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe a
herança de um mundo que corresponda à medida da vida humana; despertar nele as
melhores potencialidades para que seja sujeito do próprio amanhã e
corresponsável do destino de todos.Com essas atitudes recebemos hoje o futuro”.
As
palavras do Papa nos chamam à responsabilidade, pois, independentemente do
papel que desempenhamos – torcedor ou jogador de futebol; cidadão ou agente
político; fiel ou líder religioso –, fazemos parte de um mesmo mundo. Por
incrível que isso possa parecer, suas palavras lembraram-me também as do
jornalista Juca Kfouri ao afirmar “ser reacionário o discurso dos que não
acreditam se misturar futebol e política”. A isso acrescentaria também a
religião, pois todos esses segmentos configuram instituições humanas. Que bom
que o Papa não é um reacionário. Pensar e reverberar que futebol, política e
religião não se misturam é desconsiderar possibilidades de diálogo em prol de
um coletivo.
A
sociedade brasileira busca seu porto seguro e isso, por si só, deveria configurar-se
oportuno para o desenvolvimento de ações planejadas por parte dos governantes.
Eventos acontecem e a vida, as pessoas e suas necessidades tem acontecido muito
antes. Agregar eventos sazonais a um plano de desenvolvimento contínuo, desde
que já se tenha garantido padrões semelhantes na prestação dos serviços
públicos essenciais, é equalizar satisfação com qualidade de vida.
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