quarta-feira, 17 de julho de 2013

A saúde na emergência


Pollyana Gama
Vereadora, Educadora e mestranda
em Desenvolvimento Humano

As vozes que ecoaram - sobretudo durante o mês de junho em nosso país - e ainda ecoam,  traduzem a situação de precariedade e de maltrato crônico às políticas públicas, dentre as quais, indubitavelmente, a saúde é a principal vítima. As frequentes filas para se agendar uma consulta e o enorme tempo de espera para a realização de exames, internações, cirurgias, além da falta de leitos hospitalares, medicamentos, compõem o estado de emergência desse setor - resultante do desperdício de recursos públicos, de má gestão do sistema e, infelizmente, da epidemia de corrupção que cruelmente permite o continuísmo dessa situação, há muito tempo conhecida - inibindo seu “reestabelecimento”.

No afã de acalmar a população, o governo saiu em busca de novas agendas. Diante dos graves problemas da saúde pública, anunciou-se a vinda de médicos cubanos para suprir a falta desses profissionais no país, o que provocou imediata reação da classe médica brasileira. O Planalto anunciou o programa “Mais Médico”, desistindo, a princípio, dos médicos cubanos. Com este programa o governo anunciou a decisão de estender o curso de medicina por mais dois anos. Os alunos que ingressarem no curso de medicina a partir de 2015, além dos seis anos regulares, terão que trabalhar por dois anos no SUS, quando então receberão o diploma de médico. Mais uma polêmica foi criada com esta medida governamental, pois há contestação quanto a sua legalidade, bem como dúvidas foram levantadas quanto ao resultado esperado pelo governo.

Sabe-se da necessidade de informações precisas para que um médico, com o conhecimento que dispõe, prescreva uma receita ao paciente de modo a possibilitar-lhe a cura.  No caso do Sistema Único de Saúde brasileiro, para que ele saia desse quadro “emergencial”, informação é o que não falta. O governo possui informações que são subutilizadas. O próprio Ministério da Saúde divulgou pesquisa feita pelo IPEA em 2011, mostrando que 58,1% da população apontaram a falta de médicos como o principal problema do SUS. Dois anos se passaram e somente agora, por causa das manifestações, são apresentadas propostas desconexas e paliativas para tentar resolver este grave problema.

O Brasil possui apenas 1,8 médicos por mil habitantes, enquanto que a Argentina possui 3.2, Portugal e Espanha 4,0 por mil habitantes. No Brasil a distribuição de médicos por região é desigual: 22 estados da União estão abaixo da média nacional. Destes, somente quatro estão acima da baixa média nacional: Espírito Santo (1,97); Rio Grande do Sul (2,23); São Paulo (2,49) e Rio de Janeiro (3,44), além do Distrito Federal (3,46). Ainda, segundo pesquisa do IPEA divulgada no início desse mês, entre 48 carreiras universitárias, a medicina ocupa o primeiro lugar no ranking dos melhores salários, explicando um dos porquês da competitividade acirrada para ingressar na profissão.

Outro dado interessante é que em 2011, 18.722 médicos entraram no primeiro emprego e 14.634 profissionais estavam saindo da faculdade, ou seja, uma proporção de 1.44 vagas para cada egresso de medicina. Em 1998, 5.451 profissionais estavam entrando no primeiro emprego e 7.705 estavam sendo formados. Uma proporção de 0,71 profissionais por vaga no mercado. Nos últimos 10 anos, foram criadas 147 mil vagas de emprego e 93.156 médicos se formaram. Essa diferença gerou um déficit de 54 mil postos de trabalho nesse período.


Se o que não falta é informação, o que falta então? Falta Educação. Leia-se Educação para a  formação e qualificação de profissionais em áreas estratégicas e até mesmo políticos que tenham o planejamento como meio de organização, desenvolvimento e atendimento das demandas sociais. Enquanto persistir esse sintoma, persistirão problemas primários agravando-se ao longo do tempo os conflitos e a desconfiança nas instituições humanas. O povo deu mostras de que não vai mais tolerar esta situação e, certamente, a voz das ruas serão também no ano que vem a voz das urnas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário