Pollyana
Gama
Vereadora,
Educadora e mestranda
em
Desenvolvimento Humano
As vozes
que ecoaram - sobretudo durante o mês de junho em nosso país - e ainda
ecoam, traduzem a situação de precariedade e de maltrato crônico às
políticas públicas, dentre as quais, indubitavelmente, a saúde é a principal
vítima. As frequentes filas para se agendar uma consulta e o enorme tempo de
espera para a realização de exames, internações, cirurgias, além da falta de
leitos hospitalares, medicamentos, compõem o estado de emergência desse setor -
resultante do desperdício de recursos públicos, de má gestão do sistema e,
infelizmente, da epidemia de corrupção que cruelmente permite o continuísmo
dessa situação, há muito tempo conhecida - inibindo seu “reestabelecimento”.
No afã de
acalmar a população, o governo saiu em busca de novas agendas. Diante dos
graves problemas da saúde pública, anunciou-se a vinda de médicos cubanos para
suprir a falta desses profissionais no país, o que provocou imediata reação da
classe médica brasileira. O Planalto anunciou o programa “Mais Médico”,
desistindo, a princípio, dos médicos cubanos. Com este programa o governo
anunciou a decisão de estender o curso de medicina por mais dois anos. Os
alunos que ingressarem no curso de medicina a partir de 2015, além dos seis
anos regulares, terão que trabalhar por dois anos no SUS, quando então
receberão o diploma de médico. Mais uma polêmica foi criada com esta medida
governamental, pois há contestação quanto a sua legalidade, bem como dúvidas
foram levantadas quanto ao resultado esperado pelo governo.
Sabe-se
da necessidade de informações precisas para que um médico, com o conhecimento
que dispõe, prescreva uma receita ao paciente de modo a possibilitar-lhe a
cura. No caso do Sistema Único de Saúde brasileiro, para que ele
saia desse quadro “emergencial”, informação é o que não falta. O governo possui
informações que são subutilizadas. O próprio Ministério da Saúde divulgou
pesquisa feita pelo IPEA em 2011, mostrando que 58,1% da população apontaram a
falta de médicos como o principal problema do SUS. Dois anos se passaram e
somente agora, por causa das manifestações, são apresentadas propostas
desconexas e paliativas para tentar resolver este grave problema.
O Brasil
possui apenas 1,8 médicos por mil habitantes, enquanto que a Argentina possui
3.2, Portugal e Espanha 4,0 por mil habitantes. No Brasil a distribuição de
médicos por região é desigual: 22 estados da União estão abaixo da média
nacional. Destes, somente quatro estão acima da baixa média nacional: Espírito
Santo (1,97); Rio Grande do Sul (2,23); São Paulo (2,49) e Rio de Janeiro
(3,44), além do Distrito Federal (3,46). Ainda, segundo pesquisa do IPEA
divulgada no início desse mês, entre 48 carreiras universitárias,
a medicina ocupa o primeiro lugar no ranking dos melhores salários,
explicando um dos porquês da competitividade acirrada para ingressar na
profissão.
Outro
dado interessante é que em 2011, 18.722 médicos entraram no primeiro emprego e
14.634 profissionais estavam saindo da faculdade, ou seja, uma proporção de
1.44 vagas para cada egresso de medicina. Em 1998, 5.451 profissionais estavam
entrando no primeiro emprego e 7.705 estavam sendo formados. Uma proporção de
0,71 profissionais por vaga no mercado. Nos últimos 10 anos, foram criadas 147
mil vagas de emprego e 93.156 médicos se formaram. Essa diferença gerou um
déficit de 54 mil postos de trabalho nesse período.
Se o que
não falta é informação, o que falta então? Falta Educação.
Leia-se Educação para a formação e qualificação de
profissionais em áreas estratégicas e até mesmo políticos que tenham o
planejamento como meio de organização, desenvolvimento e atendimento das
demandas sociais. Enquanto persistir esse sintoma, persistirão problemas
primários agravando-se ao longo do tempo os conflitos e a desconfiança nas
instituições humanas. O povo deu mostras de que não vai mais tolerar esta
situação e, certamente, a voz das ruas serão também no ano que vem a voz das
urnas.
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