Por Reginaldo Gonçalves*
As manifestações realizadas contra o reajuste dos transportes públicos tomaram corpo em todo o País e fizeram algumas prefeituras rever suas posições, o que impacta o cenário econômico nacional. As críticas surgem em relação aos serviços que são prestados à população: as condições são, de fato, bastante ruins, seja pelo transporte em si, que circula, principalmente nos turnos da manhã e noite, completamente lotado, ou pelas condições das vias de acesso, sempre congestionadas em virtude da falta de investimentos em um sistema viário eficaz que venha a melhorar as condições de tempo e conforto dos usuários.
O governo federal, preocupado com o aumento das tarifas, buscou a redução a zero do PIS e COFINS como iniciativa para manter o preço nos mesmos patamares. Objetivo: não afetar o bolso dos usuários e das empresas que são obrigadas, por lei, a arcar com o pagamento da diferença de 6% sobre os salários dos empregados no repasse do vale transporte.
Em algumas capitais, como São Paulo, o transporte coletivo teria – antes de a prefeitura retroceder - reajuste de 6,67%, em média, passando de R$ 3,00 para R$ 3,20, acréscimo que não reflete, em muitos casos, no aumento dos insumos utilizados pela frota e dos salários dos empregados que compõem a estrutura de custos, já que, há um ano, as tarifas não são majoradas na maior parte dos municípios.
Com a redução do pagamento do PIS e COFINS, dependendo da forma de tributação, as empresas deixam de pagar cerca de 9,25%. Naturalmente, esse valor poderia compensar parte dos aumentos de custo da estrutura. Entretanto, a insegurança da manutenção é grande, pois a iniciativa privada, que explora o transporte por meio da parceria público-privada, está temorosa quanto à continuidade dos negócios porque existe a iminência de aumento dos combustíveis.
Vale ressaltar a subida considerável do câmbio em virtude da situação econômica, no mundo e nos países emergentes, além dos custos de manutenção, administrativos e dos funcionários que compõem a dinâmica de uma empresa.
Se não houver uma análise responsável e dependendo das atitudes dos governantes em cada Estado ou município, o estreitamento da tarifa poderá gerar uma situação de quebra das empresas. Para a efetiva manutenção de uma tarifa sustentável a empresa precisa ser sustentável e para que a empresa possa praticar preços menores há a necessidade que os seus custos sejam reduzidos.
Aumentar o número de passageiros em transportes de curto percurso e flexibilizar para os transportes de longo (que não têm a entrada e saída de passageiros contínuos durante o trajeto), além de pensar em condições mais flexiveis em relação a estímulos governamentais que possam manter a condução do usuário de forma mais tranquila e confortável trazendo qualidade de vida, seriam alternativas a serem estudadas.
Reduzir tarifas, sem uma contrapartida, certamente causará nas empresas uma situação mais complexa que reduzirá, indiscutivelmente, os seus investimentos.
As recentes greves ocorridas com trabalhadores de empresas de transporte na capital paulista e Grande São Paulo demonstram uma situação que precisa ser estudada minuciosa e responsavelmente. Hoje, o próprio governo já acena para a parceria público-privada, pois o Estado sozinho não consegue flexibilizar todo o transporte.
Em contrapartida, minguar os resultados das empresas pode não gerar o lucro necessário à remuneração do empreendedor o que inviabilizaria uma parceria saudável e durável.
É recomendável que a classe política acorde a tempo, pois podemos ter uma situação inicial de redução significativa no nível de emprego e, ao se quebrar um elo da corrente podemos estar a caminho de uma assombrosa recessão.
* Reginaldo Gonçalves é coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina - FASM
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