Pollyana Gama
Vereadora, Educadora e mestranda
em Desenvolvimento Humano
Nem todos
sabem que praticamente 70% das guerras ocorridas na história mundial foram
causadas em decorrência de conflitos religiosos. Recentemente, a Associação
Brasileira de Liberdade Religiosa deu publicidade ao fato de que 25% dos 196
países pesquisados, isto é, 49 países, enfrentam episódios de perseguição e
violência motivados pelo fundamentalismo religioso. Embora no Brasil a
liberdade religiosa seja garantida por lei, ações neste sentido são ainda um
tanto que isoladas, fazendo com que muitas vezes o preconceito fale mais alto,
a intolerância se instale na tentativa de convencimento e “a paz entre os
homens” não aconteça.
Acredito que
só é possível estabelecer uma cultura de paz por meio do diálogo. Apesar das
diferenças, pode-se, com a sua prática - desde que os locutores estejam também dispostos
a ouvir -, perceber pontos em comum e é justamente essa percepção que favorece
o amadurecimento e atitudes de respeito à diversidade e à vida. Foi esse o
principal motivo de termos criado em Taubaté um dia especial para a promoção deste
diálogo entre as religiões.
Na próxima
quinta-feira, dia 20, a Câmara Municipal de Taubaté promove, a partir das 20h, a
quinta edição do “Diálogo Inter-religioso”. A data foi incluída no calendário
oficial do município por meio do decreto legislativo 38/2009, de minha autoria
e aprovado por todos os vereadores. Ao longo desses anos, temos observado
avanços significativos nesse sentido. Na primeira edição, em 2009, abordamos “A
Religião de Cada Um”; em 2010, o legislativo taubateano sediou o “Fórum Mundial
de Liberdade Religiosa”; em 2011, o tema escolhido foi “A Cultura de Paz”; em
2012, cada religião compartilhou da sua contribuição para “A Manutenção da
Família”; e para este ano, os religiosos dialogarão sobre “O Diálogo Para a Não
Violência”.
O filósofo,
teólogo e escritor suíço Hans Küng faz uma reflexão importante sobre o tema na
primeira página do livro “O Islão – História, Presente, Futuro”. Escreve que
“não haverá paz entre as nações, se não existir paz entre as religiões. Não
haverá paz entre as religiões, se não existir diálogo entre as religiões. Não
haverá diálogo entre as religiões se não existirem padrões éticos globais.
Nosso planeta não irá sobreviver se não houver ethos global, uma ética para o
mundo inteiro”.
Atualmente
temos acompanhado pela mídia diferentes conflitos em diferentes contextos, além
dos religiosos. O que dizer, por exemplo, dos embates ocorridos nessa última
semana por conta do aumento das passagens dos ônibus no território nacional? Sabemos
também que os motivos estão além. Para aqueles que observam na intolerância uma
das formas de conquista dos seus ideais, objetivos, se faz importante refletir
a respeito, pois ela é também inibidora da formação de uma sociedade capaz de
decidir consensualmente e de solucionar problemas comuns. Não professo com isso
a tolerância no sentido de se aceitar a tudo e a todos, mas, convido-os a pensa-la
sob a ótica de sua origem.
Etimologicamente,
tolerância vem do latim – tolerare – que era utilizado como uma forma de
garantir acolhimento a alguém, uma atitude fundamental para quem vive em
sociedade. Uma pessoa tolerante compreende opiniões ou comportamentos
diferentes daqueles estabelecidos pelo seu meio social. Ela tem a capacidade de
perceber que nem todos tiveram as mesmas condições de vida, sobrevivência e
vivência da qual ela dispõe e por isso respeita.
Com isso, diante
dos conflitos, sejam eles por motivações religiosas, políticas e até mesmo
reflexo da luta pelo exercício da cidadania, chamo a atenção para o fato de
que, infelizmente, os noticiários gerados valorizam muito mais os ´efeitos
danosos´ do que propriamente a ´causa do problema´, ou seja, ao que de fato está
em discussão, desviando o foco para o que lhes convém. É o que estudiosos da
comunicação definem como “espetacularização da mídia”.
Diante disso tudo, o que fazer? Ser
tolerante ou intolerante? Compartilho aqui parte da análise feita pela Doutora
em Filosofia e Ciências Religiosas, Ivone Gebara, que me trouxe um pouco de luz:
“As palavras tolerância e intolerância poderiam ter assim gradativamente seu
significado original restaurado. Poderiam ser convite cotidiano para que
sejamos apoio para os outros, paciência e perdão. E quando o vírus da
intolerância se manifestar de novo, sermos capazes de lembrar que palhas
e traves existem em todos os olhos, mas que além delas existe a beleza do olhar
ou existe simplesmente a misteriosa e frágil chama da vida em cada um de nós”.
Comecemos
ao restaurar esses termos em nossas vidas para que se consolide uma democracia
participativa promotora de soluções em prol da coletividade por meio do diálogo.
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