quarta-feira, 19 de junho de 2013

Abaixo à intolerância

Pollyana Gama
Vereadora, Educadora e mestranda
em Desenvolvimento Humano

Nem todos sabem que praticamente 70% das guerras ocorridas na história mundial foram causadas em decorrência de conflitos religiosos. Recentemente, a Associação Brasileira de Liberdade Religiosa deu publicidade ao fato de que 25% dos 196 países pesquisados, isto é, 49 países, enfrentam episódios de perseguição e violência motivados pelo fundamentalismo religioso. Embora no Brasil a liberdade religiosa seja garantida por lei, ações neste sentido são ainda um tanto que isoladas, fazendo com que muitas vezes o preconceito fale mais alto, a intolerância se instale na tentativa de convencimento e “a paz entre os homens” não aconteça.

Acredito que só é possível estabelecer uma cultura de paz por meio do diálogo. Apesar das diferenças, pode-se, com a sua prática - desde que os locutores estejam também dispostos a ouvir -, perceber pontos em comum e é justamente essa percepção que favorece o amadurecimento e atitudes de respeito à diversidade e à vida. Foi esse o principal motivo de termos criado em Taubaté um dia especial para a promoção deste diálogo entre as religiões.

Na próxima quinta-feira, dia 20, a Câmara Municipal de Taubaté promove, a partir das 20h, a quinta edição do “Diálogo Inter-religioso”. A data foi incluída no calendário oficial do município por meio do decreto legislativo 38/2009, de minha autoria e aprovado por todos os vereadores. Ao longo desses anos, temos observado avanços significativos nesse sentido. Na primeira edição, em 2009, abordamos “A Religião de Cada Um”; em 2010, o legislativo taubateano sediou o “Fórum Mundial de Liberdade Religiosa”; em 2011, o tema escolhido foi “A Cultura de Paz”; em 2012, cada religião compartilhou da sua contribuição para “A Manutenção da Família”; e para este ano, os religiosos dialogarão sobre “O Diálogo Para a Não Violência”.

O filósofo, teólogo e escritor suíço Hans Küng faz uma reflexão importante sobre o tema na primeira página do livro “O Islão – História, Presente, Futuro”. Escreve que “não haverá paz entre as nações, se não existir paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões, se não existir diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões se não existirem padrões éticos globais. Nosso planeta não irá sobreviver se não houver ethos global, uma ética para o mundo inteiro”.

Atualmente temos acompanhado pela mídia diferentes conflitos em diferentes contextos, além dos religiosos. O que dizer, por exemplo, dos embates ocorridos nessa última semana por conta do aumento das passagens dos ônibus no território nacional? Sabemos também que os motivos estão além. Para aqueles que observam na intolerância uma das formas de conquista dos seus ideais, objetivos, se faz importante refletir a respeito, pois ela é também inibidora da formação de uma sociedade capaz de decidir consensualmente e de solucionar problemas comuns. Não professo com isso a tolerância no sentido de se aceitar a tudo e a todos, mas, convido-os a pensa-la sob a ótica de sua origem.

Etimologicamente, tolerância vem do latim – tolerare – que era utilizado como uma forma de garantir acolhimento a alguém, uma atitude fundamental para quem vive em sociedade. Uma pessoa tolerante compreende opiniões ou comportamentos diferentes daqueles estabelecidos pelo seu meio social. Ela tem a capacidade de perceber que nem todos tiveram as mesmas condições de vida, sobrevivência e vivência da qual ela dispõe e por isso respeita.

Com isso, diante dos conflitos, sejam eles por motivações religiosas, políticas e até mesmo reflexo da luta pelo exercício da cidadania, chamo a atenção para o fato de que, infelizmente, os noticiários gerados valorizam muito mais os ´efeitos danosos´ do que propriamente a ´causa do problema´, ou seja, ao que de fato está em discussão, desviando o foco para o que lhes convém. É o que estudiosos da comunicação definem como “espetacularização da mídia”.

Diante disso tudo, o que fazer? Ser tolerante ou intolerante? Compartilho aqui parte da análise feita pela Doutora em Filosofia e Ciências Religiosas, Ivone Gebara, que me trouxe um pouco de luz: “As palavras tolerância e intolerância poderiam ter assim gradativamente seu significado original restaurado. Poderiam ser convite cotidiano para que sejamos apoio para os outros, paciência e perdão. E quando o vírus da intolerância se  manifestar de novo, sermos capazes de lembrar que palhas e traves existem em todos os olhos, mas que além delas existe a beleza do olhar ou existe simplesmente a misteriosa e frágil chama da vida em cada um de nós”.


Comecemos ao restaurar esses termos em nossas vidas para que se consolide uma democracia participativa promotora de soluções em prol da coletividade por meio do diálogo.

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