quinta-feira, 27 de junho de 2013

QUATRO GERAÇÕES EM UMA MANIFESTAÇÃO...

Embora não haja definições muito claras entre as gerações do pós-guerra, sabe-se que temos na atualidade um fenômeno histórico: diferentes gerações culturais compartilhando uma mesma época.

Trata-se das gerações Baby boom, X, Y e Z. No ocidente, mais precisamente nos Estados Unidos, após a segunda guerra mundial, ao aumento significativo da taxa de natalidade daquele país denominou-se de Baby boom ("explosão" de bebês). A primeira - e mais velha das gerações atuais - nasceu sob a sombra da guerra, herdando os temores e esperanças de um novo mundo. Foi uma geração engajada política e culturalmente. Os festivais de MPB da TV Record nos anos 1960 é um exemplo desta geração.

As manifestações em maio de 1968 na França é outro inesquecível exemplo. Homens e mulheres entre 50 e 70 anos, aproximadamente, representam atualmente os Baby boomers que acreditaram nas mudanças sociais, na liberação feminina, na conquista dos direitos civis de muitas "minorias". Foi uma geração que, na sua juventude, não separava a música da política, nem o teatro da cena social ou da cultura. Os baby boomers são testemunhas vivas das rápidas mudanças sociais e, sem exageros, pode-se dizer que estas mulheres e homens que dançaram ao som da música disco, escreveram cartas de amor e de amizade, hoje estranho o próprio mundo em que habitam. Aprendem com seus filhos e netos a manipular os computadores. Quando, na história da humanidade, os mais velhos aprenderam com os mais jovens?

Os nascidos nas décadas de 1960 e 1970, sucessores dos Baby boomers, seriam os jovens da década 1980. Pelas incertezas de seu tempo e desilusões de seus antecessores, designou-se a letra x para representar a Gen X ou Geração X. Foi uma juventude desiludida, sobretudo. Sem a ingênua esperança de mudar o mundo, tão forte na geração anterior, a Geração X "encontrou" um mundo segmentado, onde política e cultura foram definitivamente separados. Os jovens daquela década herdaram a decepção com os movimentos sociais e começaram a se voltar aos interesses individuais. Foram colecionadores de vinil e consumidores do aparelho de som 3 em 1 (rádio, gravador e toca-discos em um único volume). Consumir naquela década ainda era algo ligado mais a necessidade que ao prazer.
           
A ideia de comunidade começa ser substituída pela vida individualizada. O outro começa, cada vez mais, a ser visto como um estranho. Surgem novas configurações familiares. É cada vez mais comum jovens filhos de pais separados.

A geração X envelheceu antes da última grande revolução tecnológica: a Internet. Adaptando-se às novidades das novas formas de comunicação, esta geração viu seus sucessores, a Geração Y, surgir em meio à revolução digital. Nascidos nos anos de 1980, conheceram a Internet, o CD, o DVD ainda na adolescência e se apropriaram mais rapidamente destas novas tecnologias que seus pais.

A Geração Y é a que representa a atual juventude. São homens e mulheres entre 18 e 25 anos aproximadamente que consomem música e cinema pela internet. Não dependem das locadoras de DVD ou das lojas de CD (ainda existem?) Ficam mais diante da tela do computador que da TV, ao contrário da geração anterior. Pensam no futuro imediato, sonham com o primeiro milhão de reais ou dólares antes dos 30 anos de idade. Num mundo da imagem, profetizado pelo filósofo francês Gui Debord, a Geração Y usa o celular como extensão da mão, por onde "fala" com os amigos. Visão e tato para comunicar-se por meio de textos. É a geração touch. A atenção é cada vez mais divergente: maior facilidade em perceber diferentes estímulos simultâneos (som, imagem, pessoas conversando) e dificuldade de concentração em atividades que se repetem ou que se demoram para obter compreensão total como a leitura de um  livro, por exemplo. Esta geração reinventou o conceito de comunidade ao "habitar" as redes sociais.

E o que dizer das crianças de agora? Crianças que arrastam com os próprios dedos os ícones da tela do iphone aos dois ou três anos de idade? São os representantes da Geração Z, aquela com a maior interatividade entre homem e máquina. É difícil prever, mas é fácil comparar as diferenças entre essas quatro gerações compartilhando do mesmo mundo. Desnecessário dizer das dificuldades das gerações mais velhas em mudar seus hábitos e costumes.
           
As recentes manifestações públicas surpreenderam a todos, especialmente por duas características: a participação de jovens da Geração Y e do papel das redes sociais nessa participação. Até então, a ideia de que se pudesse sair do mundo virtual para o mundo real das ruas, parecia insólita. Mas, o novo sempre surpreende. E assim deverá ser com a Geração Z.

Texto redigido por Aurélio Fabrício Torres de Melo, doutor em Psicologia do Desenvolvimento Humano (USP), professor no curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, psicólogo clínico atuando em consultório particular desde 1991.

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