*) por Francisca Paris
Dificilmente um educador contemporâneo discordaria da ideia de que a escola precisa se aproximar do cotidiano vivido pelos seus alunos, trazer a realidade para a sala de aula, a fim de que os fatos se tornem matéria viva de aprendizagem.
Bem, o discurso é sempre mais simples do que a prática. O diálogo com o mundo real requer uma postura mais flexível da escola e do professor e também certa dose de coragem pedagógica, na medida em que torna o cenário educativo um espaço de debate democrático.
O próximo ano deve proporcionar uma ótima oportunidade de tirarmos esses princípios do papel. Temos pela frente, entre outros grandes acontecimentos, eleições presidenciais, Copa do Mundo e, quem sabe, novas manifestações nas ruas, país afora.
Em 2013, muitas escolas preferiram tratar do tema das passeatas que tomaram conta do país, quando muito, como notícia de jornal. E que chance perderam de retomar processos recentes que mudaram o curso da história do país ao longo das últimas décadas!
Entre as lições deixadas pelos movimentos de rua, está a de que os jovens querem, sim, manifestar posições políticas, ainda que não se encaixem nas cores partidárias. E a escola pode (e deve) ser um espaço para a construção de opiniões, a busca de consensos, sempre alicerçados em informações, em análises bem embasadas, enfim, em conteúdos curriculares. Tudo isso é desenvolvimento de valores de cidadania – frase que certamente está presente no folder de sua instituição de ensino.
Do mesmo modo, a Copa do Mundo não é apenas um evento esportivo, mas um fato de proporções planetárias que permite análises diversas: a opção de um país de sediar um megaevento, as consequências para a população, a importância dos esportes na formação dos jovens, os investimentos envolvidos... Há certamente um aspecto interessante para o trabalho pedagógico que vai além da discussão sobre haver ou não feriado nos dias de jogos.
Eleições e Copa do Mundo são apenas dois exemplos. Ao longo de 2014, haverá (como em todos os anos) muitas oportunidades de se tornar o ensino mais significativo, da Educação Infantil ao Ensino Médio. Na verdade, melhor do que esperar essas chances é criá-las, uma vez que a matéria viva do ensino está em toda parte – nas crises ambientais, no pré-sal, na violência cotidiana, nas carências da saúde, na evolução tecnológica, na inflação ou nas redes sociais. A realidade está ao alcance das mãos do educador: basta estendê-las e abrir as portas da sala de aula.
(*) Francisca Paris é pedagoga, mestra em educação e diretora de soluções educacionais do Ético Sistema de Ensino (www.sejaetico.com.br), da Saraiva
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