BARBOSA FILHO
DELFT (Países Baixos) - A coisa mais gratificante para quem escreve criticamente sobre
Política é poder reler textos de meses ou anos atrás e não ter que retificar
nenhuma linha. Neste sentido, poderíamos nos dar por felizes, os poucos
jornalistas que advertimos com larga antecedência sobre o que se passaria em
Taubaté caso ocorresse a vitória eleitoral de Juninho Ortiz. Está tudo
publicado, para verificação, e os fatos a cada dia provam que estávamos certos,
não jogamos palavras ao vento nem inventamos nada.
Assim como a Dona Flor,
personagem marcante do grande Jorge Amado, tinha dois maridos, Taubaté tem hoje dois prefeitos.
A única diferença é que, neste caso, quem é corneada é a
população que votou induzida por uma milionária propaganda enganosa. E tampouco
podemos, os que escrevemos no passado sobre o rumo previsível dos fatos, nos
considerar realizados: a vergonha e a humilhação de uma cidade não nos faz
sentir nada bem, ao contrário. Há um misto de amargura e revolta, pois tudo
poderia ter sido diferente.
Nem me refiro ao resultado em si,
como podem pensar alguns desavisados que acham que preferíamos outro candidato.
Não haveria nada demais na vitória do PSDB se ela tivesse sido limpa, ética,
democrática. O que nos indigna é que foi um jogo sujo, uma armação que custou milhões
e não respeitou qualquer regra do jogo democrático, no qual a lisura e a
competição de alto nível são (ou deveriam ser) normas fundamentais.
Não, os Ortizes (expressão que
lançamos por aí, e caiu na boca do povo) não disputaram com lealdade. A começar
do financiamento da milionária campanha, que pode ter sido toda feita com
dinheiro desviado e propinas da Fundação para o
Desenvolvimento da Educação, como asseguram o Ministério Público, a Justiça da
Fazenda e várias testemunhas munidas de documentos, gravações, fotos e dados. É
elementar que uma campanha feita com dinheiro mal havido subverte a disputa,
impossibilita que os concorrentes façam chegar suas mensagens ao eleitor em
igualdade de condições. Só isso já bastaria para concluirmos que o que vimos em
2012 foi uma fraude gigantesca.
Mas não foi só isso. O próprio
candidato foi completamente "construído" pelo marketing, e sua
fragilidade virou "preparo" num passe de mágica (seu marqueteiro Duda
Mendonça é daqueles geniais publicitários capazes de vender freezer aos
esquimós). Tudo foi produzido, cada palavra, as cores de sua roupa, o
meio-sorriso, as promessas absurdas, a pose de bonzinho. O "programa de
governo" era uma peça de ficção para atender a todos os gostos.
Prometeu-se desde reformar 8.000 casas mal construídas pelo pai, até mil bolsas
de estudos para alunos de Medicina (uma mentira que deixaria
corado um Maluf); garantiu-se que não haveria demissões na
Prefeitura e que, ao contrário, os servidores teriam transporte e benefícios
fantásticos (o vídeo de Juninho se dirigindo aos funcionários e dizendo que as
demissões eram um "boato" espalhado pelo PT porque "tem gente
que é capaz de tudo por um voto" só não provoca gargalhadas porque o cinismo é
uma coisa muito triste).
Portanto, Taubaté votou num candidato
inexistente, com um programa de governo fantasioso. É claro que os fatos, desde
logo, estão desmontando a farsa e revelando a trágica realidade: 99 mil
taubateanos caíram num conto-do-vigário eleitoral. Um estelionato.
Mas ainda há mais um aspecto, também
previsto por nós, jornalistas sem rabo-preso e sem nenhum talento especial a
não ser o de escrever as coisas como elas se apresentam e chamar os fatos pelo
nome que eles têm no idioma português. Se um dia eu fosse processado pelos Ortizes,
(como, parece, eles querem fazer com o jornalista Irani Gomes de Lima), não
usaria nenhum código para me defender: levaria ao Juiz as palavras e atos dos
Ortizes e uns três ou quatro dicionários. Chamar uma mentira de mentira e
corrupção de corrupção não é crime em parte alguma do mundo. Ou muda-se o
vernáculo, ou os Ortizes terão que engolir nossas críticas - que, aliás, jamais
foram pessoais - expressas em linguagem comum e direta. Não há como enfeitar
uma cloaca, um chiqueiro: a fedentina é mais forte que a formosura.
Refiro-me aqui ao fato que eu
sintetizei numa espécie de slogan: "Vote em um
e aguente dois". Parecia uma brincadeira, um chiste, mas não é que os
fatos mostram que acertei em cheio?
O jornal O VALE, do dia
11/01/2013, traz matéria do competente colega Júlio Codazzi, sob o
título "Nomeações refletem influência de Bernardo no novo
governo". O texto informa que o pai do prefeito-provisório (está
respondendo a vários processos que podem cortar-lhe o mandato a qualquer
momento) acaba de nomear o quinto secretário da administração nominalmente do
filho. É claro que Juninho assina o ato: ele foi preparado a
vida toda para polir a cadeira onde seu pai está ilegal e imoralmente sentado e
para colocar sua assinatura formal sob as decisões do ex-prefeito que hoje é
tão estranho à Prefeitura quanto eu, o Irani ou o Roberto Peixoto.
Desta vez Bernardo escolheu um
cidadão que já havia sido seu auxiliar em dois órgãos do Estado, a Codasp (Cia.
de Desenvolvimento Agrícola) e a própria FDE. No primeiro caso a contratação
foi considerada ilegal pelo Tribunal de Contas do Estado
(aquele Tribunal ao qual Juninho referiu-se no último debate na TV como se
fosse um órgão do poder judiciário que o houvesse absolvido, uma mentirinha a
mais). No segundo caso, o sr. Emerson Tanaka também foi contrato por Ortiz pai
sem concurso público - uma prática que os Ortizes não apreciam muito, talvez
porque seus parceiros mais próximos não consigam passar em
concursos, quem pode saber? Com o afastamento de Ortiz da FDE pela Justiça da
Fazenda Pública, o sr. Tanaka ficou desempregado, e isso não pode acontecer com
os amigos, não é? Já que a Prefeitura de Taubaté está aí prá isso mesmo
(sustentar os cupinchas e abrigar os demitidos da Prefeitura de São José dos
Campos e outras cidades que espantaram os tucanos) já está o amigo do pai
encaixado na equipe do filho. Como ele, Bernardo nomeou (com o autógrafo do
pimpolho, claro) minha amiga Marilda Prado, o cel. Athaide Amaral, o empresário
Geraldo de Oliveira. Para o setor-chave das Finanças, Bernardo não deixou por
menos: escolheu sua namorada de muitos anos Odila Sanchez.
A matéria de Júlio Codazzi traz, pelo
menos, uma informação auspiciosa: os vereadores Luizinho da Farmácia (PR) e
Salvador Soares (PT) manifestaram estranheza com a desenvoltura com que o pai
está mandando na administração do filho. Afinal, Ortiz pai não teve nenhum voto
nesta eleição, já que a Justiça o impediu de disputar seu quarto mandato. Eu
faria apenas um pequeno reparo no título: acho que é o Juninho quem terá que
lutar bastante para ter alguma influência na administração - mas sinto que ele
não está muito interessado, a não ser, talvez, no setor das licitações, no qual
tem bastante experiência. Se esses dois vereadores, aos quais felicito pela
postura, e alguns outros quiserem cumprir seu dever de fiscalizar as práticas
da breve gestão dos Ortizes, certamente terão muito trabalho pela frente.
Oxalá!
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