Camões Filho
Dia desses conversava com um amigo, desses que a gente fica anos sem se ver e quando encontra parece que precisamos de todo o tempo do mundo para matar a saudade. E eu lhe dizia que agosto sempre foi um mês aziago, especialmente na história do nosso país, mas que eu tenho saudades de alguns fatos ocorridos comigo em agostos idos. Especialmente de um certo agosto com gosto de saudade.
Saudade... palavra só existente na língua portuguesa e que às vezes corta nossos corações feito faca amolada. Luiz Fernando Veríssimo nos alerta: “Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu”.
Se o tempo não pára, só a saudade faz o tempo parar e nos trazer de volta fatos idos e vividos. Como de um amarelado papel que recentemente encontrei entre meus achados, com coisas costuradas por mim com outras que vi por aí, falando de saudade...
Ando com saudades de café com pão. Mas daquele pão do padeiro que percorria as ruas da Vila São José, onde morava o Camõesinho, e que nos trazia em uma cesta presa na sua bicicleta o pão nosso de toda tarde, sempre quente e fresquinho.
Saudade dos namoricos no portão, onde a gente só conseguia roubar um beijinho da namorada na hora da despedida.
Saudades...
De pedir bênção a pai e mãe e eles nos responder docemente: "Deus te abençoe, meu filho".
De ver um varal cheio de roupa, balouçando seu colorido ao sabor do vento.
De cantar toda sexta-feira na escola o Hino Nacional, sonhando todos os sonhos do mundo.
Sentir a emoção de ver a Seleção Brasileira entrando em campo nas Copas do Mundo.
De saber que ninguém mais vai morrer de dengue, febre amarela, gripe suína.
Saudades de quando os homens usavam apenas o assobio como galanteio. E as moças passavam de nariz empinado, fingindo que não gostaram.
Saudades do macarrão da mama, do guaraná de festa, da pipoca do pipoqueiro da esquina.
De homens de gravatas, de novela com final feliz, de ouvir alguém dizer “obrigado”.
Saudades de ver o céu com pipas coloridas, de ler gibi, de trocar figurinhas.
Saudade da velha Praça D. Epaminondas, onde a gente se encontrava com os amigos e traçava planos sem sequer imaginar onde estaríamos e o que faríamos em um certo agosto de 2013...
CAMÕES FILHO, jornalista, escritor e pedagogo. E-mail: camoesfilho@bol.com.br
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