Pollyana Gama
Vereadora, Educadora
e mestranda
em Desenvolvimento
Humano
Não
é a primeira vez que recorro a Bauman ao tentar compreender situações
cotidianas. E nem será a última. Zygmunt Bauman, sociólogo polonês
contemporâneo, é um dos pensadores mais respeitados na atualidade e,
particularmente, o considero um senhor muito simpático. Por vezes imagino como
deve ser uma de suas aulas ou uma simples conversa dessas que temos por costume
caracterizar como “de pai para filho” e, no caso, de “professor para aluno ou de
mestre para discípulo”.
Enquanto
isso não acontece, o jeito que disponho para estar por perto é ora ler seus
escritos, ora assisti-lo via Youtube ou entrevistas pelo programa “Café
Filosófico”, da TV Cultura, que na semana passada nos ofereceu novamente a
oportunidade. Mas e o que tudo isso tem a ver com o título do nosso artigo?
Pois bem, vamos ao ponto.
Nesse
último fim de semana tivemos o domingo dedicado aos pais e, assim como no mês
de maio temos um domingo dedicado às mães, fiquei pensativa a respeito, pois a
família “Doriana” - aquela do comercial onde pai, mãe e filhos iniciam o dia
sorridentes, felizes, tomando um farto café da manhã, - não tem sido real para
muitos de nós.
A
respeito basta atentarmos para registros anuais que mostram um número crescente
de divórcios - em dezembro de 2012, o Jornal “O Vale” divulgou que enquanto no
Brasil o número de divórcios cresceu 45,6%, em nossa região o crescimento foi
de 47,31% - revelando parte do que Bauman, o sociólogo simpático que citei
acima, delineou ao escrever “Modernidade Líquida: a liquidez nas relações”.
Na
medida em que na sociedade atual os avanços se dão em vários sentidos, Bauman
atenta que esses ocorrem em detrimento da solidez necessária para
estabelecimento, por exemplo, de compromissos dado a fluidez com que ocorrem.
Feito líquido, esses avanços não apresentam uma forma concreta e acabam
moldando-se aos recipientes existentes, movimentando-se de tal maneira que se
torna difícil contê-los.
E
em meio a esse mundo líquido moderno, famílias se desfazem e se refazem. O
modelo “Doriana” continua sendo um sonho para uns e desespero para outros que
não despertaram para a máxima de que não é o modelo que faz acontecer a
felicidade, “a família” e sim a relação que cada um estabelece consigo mesmo e
com o outro.
A
situação a que chegamos exige solidariedade, amorosidade de uns com os outros e
com todos os membros de famílias “feitas, desfeitas e refeitas” e menos
egoísmo, individualismo. E já que passamos apenas dois dias da comemoração do “Dia
dos Pais”, por que não aproveitar o momento para pensarmos a respeito? Sinto
que para ser pai, não basta apenas ser o genitor. É muito
mais que isso.
Ser
pai supera os fatores biológicos, consanguíneos. É necessário ter presença, dedicação,
comprometimento, convivência afetuosa, na dosagem certa para o desenvolvimento integral
dos filhos, garantindo-lhes ao menos “asas fortes” para que voem com a
segurança essencial e saibam, queiram voltar sempre que desejarem. Do
contrário, com base nas informações aqui compartilhadas, a paternidade se
diluirá, tornando-se líquida e assumindo formas muitas vezes indesejáveis, e
até mesmo comprometendo algo precioso: a VIDA.
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