Pollyana Gama
Vereadora, Educadora
e mestranda
em Desenvolvimento
Humano
“Família,
Família: Papai, mamãe, titia”... Assim começa a música “Família” dos Titãs embalando
um formato tradicional de família: querido, desejado, idealizado e, para
muitos, diferente das realidades na atualidade. Para muitos, a família
constitui o alicerce necessário para os enfrentamentos de problemas ou
dificuldades decorrentes do meio e das relações estabelecidas, independentemente
da classe social, raça ou credo a que pertence.
Pensar na
figura do pai, da mãe e dos irmãos, juntos, típico das famílias patriarcas,
convivendo sob o mesmo teto; a reunião diária dos entes queridos, seja para o
almoço, jantar ou aquele cafezinho da tarde (mesmo que nos finais de semana) é
sentir por um lado a sensação de segurança por creditar a esse modelo a garantia
da formação plena e adequada do ser humano. Por outro lado, quando oposto da
realidade que se vive, pode gerar conflitos muitas vezes prejudiciais ao indivíduo
ou despertá-lo para ações em busca de se constituir esse referencial. São
inúmeras as probabilidades.
Foi assim,
de um jeito ou de outro, com os nossos pais e com muitos de nós. No entanto, o
que se fazer diante dos desafios impostos resultantes de um certo “derretimento”
dessa estrutura familiar tradicionalmente conhecida e referencial?
Hoje, ser
“criado” por apenas um dos genitores já não constitui uma grande novidade,
assim como estar sob a guarda de um parente. Aqui, apenas dois exemplos que tem
levado não só profissionais como também a sociedade a questionar o que de fato
é uma família. Se considerarmos o assustador crescimento do número de divórcios
podemos perceber a importância dessa reflexão. Somente entre os anos de 2010 e
2011, por exemplo, o Vale do Paraíba registrou aumento de 47,31% em número de
divórcios, acima da média nacional que foi de 45,6%, no mesmo período, conforme
pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).
Em
Taubaté, o mesmo levantamento aponta que 295 casais se divorciaram em 2010
contra 511 no ano seguinte. São José dos Campos saltou de 1.036 para 1.215 e
Jacareí passou de 364 para 651, só para citarmos as maiores cidades da nossa
região metropolitana. Em alguns casos, há relatos de que o amor acabou e em
outros brigas, desentendimentos.
Independentemente
das razões, o resultado deste “derretimento”, em especial nas camadas sociais
economicamente fragilizadas e ainda não atendidas a contento pelo Poder Público,
tem tornado vulnerável muitas crianças e adolescentes. Sem a devida segurança
dentro e fora de casa, a probabilidade para que os filhos desses casais tornem-se
presas fáceis de criminosos é muito maior.
Um dos
principais pensadores sobre o tema, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, autor
do livro “Modernidade Líquida”, oferece algumas reflexões sobre estas
transformações. O estudioso afirma que “a modernidade líquida apresenta duas
características que desmancham as instituições existentes, os padrões e as
configurações: o “derretimento de instituições sólidas” (a família tradicional,
dando cada vez mais lugar a outros modelos, por conta do aumento de divórcios)
e a “fluidez das relações sociais” (pessoas que não se relacionam de verdade,
apesar de estarem muito conectadas em inúmeras outras)”.
Avôs e
avós são incluídos e excluídos sem meios de participar das decisões de seus
filhos e filhas. Então, afinal, o que é realmente a família hoje em dia? O que
significa? “Hoje os padrões e configurações não são mais ´dados´, e menos ainda
´auto-evidentes´”, conclui Bauman. No lugar da vida em comunidade, o indivíduo
ficou órfão, isolado e confuso, sem as instituições sólidas para lhes ditar o
que deveria fazer de sua vida.
Devido a
esta evidente “enfermidade”, em 1994, a Assembleia Geral da ONU (Organização
das Nações Unidas) proclamou o dia 15 de Maio (celebrado nesta quarta-feira)
como “Dia Internacional da Família”. Um dos muitos objetivos é chamar a atenção
da população para a importância da família como núcleo vital da sociedade e
para seus direitos e responsabilidades, além de reforçar a mensagem de união,
amor, respeito e compreensão necessária para o bom relacionamento de todos os
elementos que compõem a família.
O
conceito de família deve ser amplamente debatido. Particularmente tenho insistido muito para
que isso seja feito em nossa cidade e região dada a fragilidade, por exemplo,
da nossa sensação de segurança. Certamente as contingências vivenciadas, e que
explicam muito da condição e estrutura dos sujeitos, ao serem compartilhadas
com profissionais engajados, constituirão meios para diagnosticar o que se
falta realmente para solidificação da família e amparo para os indivíduos que
dela fazem parte seja qual for o seu “modelo”.
Padre
Zezinho nos chama a atenção para que “nenhuma família comece em qualquer de
repente”. Lembremos que ninguém pode dar o que não tem e é por isso que temos
insistido tanto para a constituição de uma Escola para Pais. Pense nisso!
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