quarta-feira, 15 de maio de 2013

Família eh, Família ah, Família!


Pollyana Gama
Vereadora, Educadora e mestranda
em Desenvolvimento Humano

“Família, Família: Papai, mamãe, titia”... Assim começa a música “Família” dos Titãs embalando um formato tradicional de família: querido, desejado, idealizado e, para muitos, diferente das realidades na atualidade. Para muitos, a família constitui o alicerce necessário para os enfrentamentos de problemas ou dificuldades decorrentes do meio e das relações estabelecidas, independentemente da classe social, raça ou credo a que pertence.

Pensar na figura do pai, da mãe e dos irmãos, juntos, típico das famílias patriarcas, convivendo sob o mesmo teto; a reunião diária dos entes queridos, seja para o almoço, jantar ou aquele cafezinho da tarde (mesmo que nos finais de semana) é sentir por um lado a sensação de segurança por creditar a esse modelo a garantia da formação plena e adequada do ser humano. Por outro lado, quando oposto da realidade que se vive, pode gerar conflitos muitas vezes prejudiciais ao indivíduo ou despertá-lo para ações em busca de se constituir esse referencial. São inúmeras as probabilidades.

Foi assim, de um jeito ou de outro, com os nossos pais e com muitos de nós. No entanto, o que se fazer diante dos desafios impostos resultantes de um certo “derretimento” dessa estrutura familiar tradicionalmente conhecida e referencial?

Hoje, ser “criado” por apenas um dos genitores já não constitui uma grande novidade, assim como estar sob a guarda de um parente. Aqui, apenas dois exemplos que tem levado não só profissionais como também a sociedade a questionar o que de fato é uma família. Se considerarmos o assustador crescimento do número de divórcios podemos perceber a importância dessa reflexão. Somente entre os anos de 2010 e 2011, por exemplo, o Vale do Paraíba registrou aumento de 47,31% em número de divórcios, acima da média nacional que foi de 45,6%, no mesmo período, conforme pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).

Em Taubaté, o mesmo levantamento aponta que 295 casais se divorciaram em 2010 contra 511 no ano seguinte. São José dos Campos saltou de 1.036 para 1.215 e Jacareí passou de 364 para 651, só para citarmos as maiores cidades da nossa região metropolitana. Em alguns casos, há relatos de que o amor acabou e em outros brigas, desentendimentos.

Independentemente das razões, o resultado deste “derretimento”, em especial nas camadas sociais economicamente fragilizadas e ainda não atendidas a contento pelo Poder Público, tem tornado vulnerável muitas crianças e adolescentes. Sem a devida segurança dentro e fora de casa, a probabilidade para que os filhos desses casais tornem-se presas fáceis de criminosos é muito maior.

Um dos principais pensadores sobre o tema, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, autor do livro “Modernidade Líquida”, oferece algumas reflexões sobre estas transformações. O estudioso afirma que “a modernidade líquida apresenta duas características que desmancham as instituições existentes, os padrões e as configurações: o “derretimento de instituições sólidas” (a família tradicional, dando cada vez mais lugar a outros modelos, por conta do aumento de divórcios) e a “fluidez das relações sociais” (pessoas que não se relacionam de verdade, apesar de estarem muito conectadas em inúmeras outras)”.

Avôs e avós são incluídos e excluídos sem meios de participar das decisões de seus filhos e filhas. Então, afinal, o que é realmente a família hoje em dia? O que significa? “Hoje os padrões e configurações não são mais ´dados´, e menos ainda ´auto-evidentes´”, conclui Bauman. No lugar da vida em comunidade, o indivíduo ficou órfão, isolado e confuso, sem as instituições sólidas para lhes ditar o que deveria fazer de sua vida.

Devido a esta evidente “enfermidade”, em 1994, a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) proclamou o dia 15 de Maio (celebrado nesta quarta-feira) como “Dia Internacional da Família”. Um dos muitos objetivos é chamar a atenção da população para a importância da família como núcleo vital da sociedade e para seus direitos e responsabilidades, além de reforçar a mensagem de união, amor, respeito e compreensão necessária para o bom relacionamento de todos os elementos que compõem a família.

O conceito de família deve ser amplamente debatido.  Particularmente tenho insistido muito para que isso seja feito em nossa cidade e região dada a fragilidade, por exemplo, da nossa sensação de segurança. Certamente as contingências vivenciadas, e que explicam muito da condição e estrutura dos sujeitos, ao serem compartilhadas com profissionais engajados, constituirão meios para diagnosticar o que se falta realmente para solidificação da família e amparo para os indivíduos que dela fazem parte seja qual for o seu “modelo”.

Padre Zezinho nos chama a atenção para que “nenhuma família comece em qualquer de repente”. Lembremos que ninguém pode dar o que não tem e é por isso que temos insistido tanto para a constituição de uma Escola para Pais. Pense nisso!

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