terça-feira, 9 de abril de 2013

Tudo acaba em pizza...


Camões Filho

         No Brasil, para o bem ou para o mal, tudo acaba em pizza, servida bem quentinha ao lado de uma gelada. Folclore ou verdade, tudo vem acabando há décadas com a famosa redonda.
         Consta que antigamente terminar em pizza indicava generosidade, coração aberto e não guardar mágoas de quem tivesse opinião diversa. Depois de uma discussão, por causa de política ou futebol, por exemplo, os oponentes davam-se as mãos e se dirigiam para uma pizzaria. E tudo acabava em pizza.
         Hoje a expressão está presente no espírito popular, significando impunidade, falta de respeito com as instituições, corporativismo, descrédito na justiça. O tempo se incumbiu de degradar essa expressão que surgiu de sentimentos mais puros.
É uma pena que os políticos não possam usar este bordão da forma inicial, que poderia ser o símbolo de uma atitude que espelha a generosidade humana. Na realidade, o significado de “acabar em pizza” deveria ser o símbolo nacional de boa vontade e de compreensão e não o termo usado para a impunidade política, a roubalheira, a falta de ética.
Temos visto na imprensa diariamente o farto noticiário de políticos e afins que abocanham recursos públicos com a mesma fome com que se fartam de uma boa pizza. Gente que avança de faca, garfo e unhas afiadas no erário público. Enchem as burras de dinheiro malversado com a mesma gana com que enchem suas panças.
E nem se importam com a opinião pública e se tiverem que prestar contas, apelam para o direito democrático de permanecer calado e não produzir provas contra si próprio.
E depois seguem para as pizzarias, onde tudo acaba em pizza, de todos os sabores. Especialmente aquela que é a mais popular, de muçarela. Isso mesmo, muçarela, que ele escreve erroneamente com dois esses. Se é que sabe escrever alguma coisa.
Roubar eles sabem bem, mas que aquele queijo delicioso das pizzas se escreve assim mesmo, muçarela, com cê-cedilha, isso ele não sabe nada.
Certamente a maioria deles fugiu da escola, trocando os bancos escolares pelas mesas de uma pizzaria, onde confabulam suas malversações.
E tudo acaba em pizza...
        
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 Camões Filho, jornalista, escritor e pedagogo, é membro titular da Academia Taubateana de Letras.
E-mail para contato com o autor:  camoesfilho@bol.com.br

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