terça-feira, 16 de abril de 2013

Receita de família


Camões Filho

         Família é a base de tudo. Com família, educação e religião, temos uma sociedade saudável, feliz, próspera. Observe bem e irá constatar que, onde faltam família, educação e religião, o crime e os maus costumes imperam.
         Hoje, quando as famílias se desintegram, lembro-me de uma singela receita da família feliz, que leva os seguintes ingredientes: 4 xícaras de Amor; 2 xícaras de Felicidade; 3 xícaras de Perdão; 1 xícara de Amizade; 5 colheres de Esperança; 3 colheres de Ternura; 4 potes de Paciência; 1 barril de Alegria. Modo de Fazer: Pegue o Amor e a Felicidade, misture muito bem com a Paciência. Junte a Ternura com a Amizade e o Perdão. Acrescente a Alegria e salpique Esperança. Sirva em grande quantidade para que a Paz reine em sua casa e a União prevaleça constantemente em sua família.
         Mas li por aí que família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um.
         Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite.
         O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida.
         Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele, o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.
         E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? O mais prestativo? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero.
         Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.

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 Camões Filho, jornalista, escritor e pedagogo, é membro titular da Academia Taubateana de Letras.
E-mail para contato com o autor:  camoesfilho@bol.com.br

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